Helô Sampaio

Sobre o filho que arranjei (e uma receita de bacalhau pra completar)


Eu e minhas artes

Acabado o sacolejo do Carnaval, a gente agora vai preparar o espírito para as festas da Páscoa, que traz muita fé e comilança. Aliás, qual é a festa que acontece na Bahia que não tenha comilança, lambança, festança, gastança e outras ‘anças’.

Tudo aqui vira lambança, e com muita alegria, comemoração e bebedeira, né mesmo, fifo. Baiano é o povo mais festeiro do planeta. Pode ter igual, mas mais alegres e fogosos do que nós, acho muito difícil.

Ainda estou aqui, no Hospital da Obesidade, onde (caia duro aí) já perdi 15 quilinhos e estou andando bem melhor. E me sinto bem mais disposta, viu, neguinho.

O povo aqui é muito legal, afetuoso e atencioso. Já até arrumei um ‘filho’: é o Maicon, um gordinho muito carinhoso, que também faz o tratamento e já perdeu um monte de quilinhos aqui. Gosto muito dele e já combinei com a mãe dele que permaneceremos amigas mesmo depois da nossa saída.

E eu não vou nem falar de Jane, a psicóloga linda e loura, que nos dá muito apoio e incentivo. Nem do dr. Sérgio, médico charmoso e muito simpático, pessoas que deixam a casa mais ‘nossa’, resolvem tudo. Ah! E ainda tem o grande (mesmo) Babu Miranda, do trio Parangolé, que é meu ‘vizinho’ de moradia, e é na ‘casa’ dele que eu vou com a tchurma para jogar buraco toda noite (para matar o tempo). Babu não gosta muito quando perde o jogo: fecha a cara, fica enfezado e bicudo, he-he. E nós ficamos fazendo gozação, aproveitando a boa sorte desse dia.

Mas, logo depois, Babu lembra que o Carnaval e as festas momescas já estão batendo na porta e podem vir trazendo as viroses – que, inclusive, recebem nomes das músicas do Carnaval. Já temos na Bahia duas viroses: a ‘macetando’ e a ‘perna bamba’, duas pragas que nos deixam ‘pulando que nem pipoca’. 

Já lá no Rio de Janeiro, a que ganhou fama foi a praga ‘viradouro’, que promoveu um desfile de mosquitos da dengue, dizem as más línguas. E aqui, Babu fica cantando pra mim, essa musica que é uma criação sua: ‘Tentam me derrubar com o vírus/ mas eu não/ não caio/Não caio eu/Nem a bela Helo Sampaio’(acho que é assim que ele canta). E não vamos cair mesmo.

Mas o que eu adoro fazer aqui no HDO é ir pra piscina, ficar tomando sol, mergulhando, fazendo exercícios, hidroginástica, hidroterapia, ou qualquer ‘hidro’ que ofereçam. Tenho certeza que eu tenho um pouco de sereia dentro de mim (devo ser mesmo uma cria da linda sereia linda de Itapuã, sem falsa modéstia, he-he). É falar em mar, piscina ou rio, que eu já pulo no maiô pra continuar a conversa.

E você quer que a gente faça mais o quê, neste lugar que é um paraíso para as aves e onde as árvores frondosas dão sombras acolhedoras. E ainda podemos dispor de duas piscinas olímpicas – sendo uma térmica – para a gente se divertir e matar o tempo. Depois dos banhos, eu pego a merenda e me sento na porta da casa só para ficar matutando, apreciando a beleza da natureza e acompanhando o trabalho incansável dos passarinhos, que passam todo o tempo fazendo ninhos ou cuidando dos seus filhotes. Enquanto eu já fico esperando chegar a hora do jantar, lógico.   

Ah! Fifo, se tem um trem bom aqui, é a comida: sempre variada e muito saborosa. O pessoal capricha, acho que é só para nos ver com umas carinhas de ‘anjinhos satisfeitos’. Também, fio, longe de casa, da família e dos amigos, se não houver um bom divertimento, com música, alegria e boa comida, a gente faz um omelete com o diretor (e com você também, viu, Jane).

Ah! Mas ainda temos aulas para trabalhos artesanais onde eles nos ensinam a produzir peças lindas. Até eu, que sou uma ‘anta’ para fazer trabalhos manuais, fiz uns ‘trecos’ muito criativos (com todo apoio deles, lógico). São profissionais orientadores da terapia ocupacional que se empenham muito para o nosso desenvolvimento artístico. Vou fazer a foto com alguns dos trabalhos que já produzi – quadros, bonequinha e almofada, tudo com apoio deles, os orientadores.

São coisas lindas e, com certeza, você vai morrer de inveja, pode crer, he-he. Beatriz, a minha sobrinha-neta amadinha, filhota de Pindoba, adorou os produtos que ela viu, achou tudo lindo e já levou pra casa em Buerarema, me deixando na saudade e avisando que quer mais presente da titia. Tem coisa melhor, não, lindinho. Veja as minhas artes, e diga se não sou uma ‘gênia’ (Carina Nepomuceno, a psicóloga que me atende aqui também vai confirmar, né Carine). E agora vamos deixar de lero e cuidar para a barriguinha também ficar satisfeita, batendo palminhas, viu, neguinho. Que tal um bacalhau rico, com camarão, para deixar a nossa barriguinha batendo palmas de tão feliz que vai ficar?

Bacalhau rico de Maria Otília

Ingredientes:

-- Meio quilo de bacalhau
-- Um quilo de batatas
-- Meio quilo de camarão
-- Meio quilo de tomate
-- 250g de cebola
-- 3 dentes de alho
-- 2 dl de azeite
-- 2 latas de creme de leite
-- Um copo de vinho branco.

Modo de preparar 

1 - Desfiar o bacalhau; cozinhar o camarão e descascar (se for grande, parta);

2 - Com o azeite, faça um refogado com cebola e alho picado;

3 - Quando a cebola estiver bem ‘lourinha’, juntar o bacalhau grosseiramente desfiado e deixar apurar.

4 - Acrescentar o camarão que já deverá estar cozido e descascado. Juntar o tomate em purê e deixar apurar. 

5 - À parte, cortar as bananas em palha e fritar. Misturar ao preparado do bacalhau, juntar o vinho e as natas.

6 - Numa travessa de pirex, deitar este preparado, salpicar com faarinha de pão e levar ao forno quente para gratinar. Saborear com a carinha feliz de quem está comendo bem gostoso. Bom apetite!