Alberto Oliveira

O ano em que a hipocrisia viralizou

O que nos deixa de lembrança, este 2020?

Há pelo menos 20 versículos na Bíblia, sobre o tema, o que mostra sua importância. 

Fiquemos, apenas, com dois deles, sendo Mateus 7:3-5 o primeiro: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”.

E, por último, Romanos 2:1 – “Portanto, você, que julga os outros é indesculpável; pois está condenando você mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas”.

John Garrigues, um dos maiores divulgadores da teosofia (doutrina espiritualista) dizia que "nenhum erro pode ser mais desprezível" que a hipocrisia, ou seja, denunciar alguém por realizar alguma ação enquanto pratica exatamente aquilo que condena.

O que nos deixa de lembrança, este 2020?

Por exemplo, vimos um governador pregar o uso de máscaras, como meio de proteção contra o novo coronavírus, para depois ser literalmente desmascarado, livre, leve e apertado em calça justa, flanando por uma Miami sem restrições, um dia depois de impor o fechamento no Estado que governa.

Vimos um prefeito proibir até mesmo que se pusesse os pés na areia das praias, para depois ser apanhado valsando, sem máscaras, diante do pai (também sem a proteção facial, embora integrante do grupo de risco, pela idade).

E vimos um - seja lá o que isso signifique - "influenciador digital" indignar-se contra os que rompem o distanciamento para, mais tarde, aglomerar-se com amigos durante partida de futebol.

Os exemplos são muitos, diários, tendo sido o maior deles, sem dúvida, a aglomeração em massa promovida por políticos de todas as colorações partidárias e ideológicas durante a campanha às prefeituras e câmaras de vereadores.

Muitos dos brasileiros hoje entubados nas Unidades de Tratamento Intensivo são os mesmos levados a se espremer em corredores lotados, nas eleições deste ano, ou incentivados a participar de carreatas e comícios.

Muitos dos que estão morrendo, apanhados pelo que alguns chamam de uma segunda onda de Covid-19, são os eleitores convidados a festas de vitória eleitoral. Nelas, podia-se ir às centenas, aos milhares, diferente do que foi permitido no Natal ou será liberado no Réveillon.

A desfaçatez também mata.